Os nós que há em nós

Desde que o mundo é mundo, as pessoas enfrentam dificuldades quando o intuito delas é o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais saudáveis e, principalmente, duradouros. Nessa categoria podemos inscrever a amizade que, infelizmente, é um bem que tem se tornado cada vez mais difícil de ser encontrado. Jesus, durante sua existência histórica, mostra-se verdadeiramente amigo de todos.
Anuncia a Boa Nova do Reino, cujo epicentro se encontra na amizade fraterna. Ele quis que os homens se tornassem amigos de Deus-Pai e amigos uns dos outros. Aproximou-se dos marginalizados, dos sem amigos. A ninguém exclui do seu círculo de amigos. Prostitutas e cobradores de impostos entram nesse círculo, seduzidos pela beleza das palavras de Jesus, pela ternura de sua misericórdia.
“...e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Rm 13. 9) O mandamento do amor não se traduz numa solidariedade fria e indiferente. Vive-se o amor num verdadeiro clima de amizade, o que exige real envolvimento com os dramas e angústias dos que nos cercam. Quando chegamos a ser amigos, nossa atitude reflete o amor- amizade de Deus em nós. Toda amizade sincera que há no mundo, mesmo fora dos muros do cristianismo, é vestígio da presença real de Deus-amigo.
A amizade segundo o coração de Deus manifesta-se quando um amigo tem a capacidade de apontar Deus a todo instante para aquele que o acompanha. Ser amigo nem sempre é ter uma palavra humana a oferecer, como aquelas do tipo “você vai conseguir”, “você pode”, “você é capaz”, ou “você é forte”, mas com certeza, é ter uma palavra de bênção e uma palavra de fé vinda do coração de Deus para profetizar que, por meio de Jesus, somos mais que vencedores.
Amigos compartilham experiências... Ensinam... Corrigem... Amigos buscam viver em santidade. E por mais que alguns enxerguem a santidade como um alvo inatingível, inalcançável, os verdadeiros amigos sempre ensinam, através de seus próprios testemunhos, como buscar uma vida santa.
Amizade em nossos dias, em muitos casos, significa se aproximar de alguém que podeoferecer algo. Quando não tem mais o que oferecer deixa de ser amigo e aquele que até então não era amigo, mas agora tem algo a oferecer, passa a ser o amigo da vez.
“Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores” (Tg 2. 9) Devemos tratar todas as pessoas como gostaríamos de ser tratados. O cristianismo e a amizade cristã têm mais a ver com você dar do que receber, fazer do que esperar que façam, amar do que esperar que lhe amem. A amizade cristã está sempre voltada para o próximo. Amizade aos olhos de Deus tem mais a ver com o que você está decidindo fazer por alguém hoje do que com o fato de ninguém estar se lembrando de você.
Num trabalho que aborda o tema “os nós que há em nós”, Herbert A. Pereira (www.kerix.com.br), dá verdadeira lição de criatividade e pertinência quando afirma: “Esses ‘nós’ que há em nós, permanecerão em nós, se não houver mudança de postura de nossa parte. O aspecto mais importante de um nó é a dificuldade em desfazê-lo. Quanto maior a quantidade de nós em uma corda, menor fica o seu tamanho. Para piorar, há momentos em que em nós subsiste o chamado “nó cego”. Um nó que, além de ser cego, cega aquele que o tem e o faz enxergar apenas o que quer ver. Um nó, quando bem apertado não se desata naturalmente. Ele precisa que alguém o desfaça. Os “nós” que há em nós não se desfarão sozinhos. Pelo contrário, continuarão a apertar, a comprimir, a sufocar e a diminuir em nosso interior a presença manifesta de Deus.”
A amizade é um tema pouco tratado no meio cristão. Pare e pense em quantos livros você já leu sobre amizade cristã. São raros. Estamos tão acostumados em chamar os outros de “irmãos” que até esquecemos que também precisamos de amigos. Chega de vivermos apenas como “irmãos”. Sejamos amigos, pois só poderemos ser verdadeiramente irmãos se formos verdadeiramente amigos.
Jesus não ficou esperando que as pessoas viessem procurá-lo para uma amizade. Ele não esperou que alguém o notasse, que alguém puxasse papo, que alguém se preocupasse com Ele. Antes, Ele decidiu ir e notar, puxar papo, se preocupar com as pessoas de dentro e de fora de seu convívio. Há dores demais em nosso meio, angustias em excesso no seio das igrejas para deixarmos isso prá lá. Há necessidade de alteração em nossa postura, em nosso entendimento, com um balizamento correto sobre limites éticos e morais, com a delimitação de nossas funções neste mundo e, principalmente, é preciso que haja a produção de mudanças em nosso coração.
“Sonda-me, ó Deus, conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau (ALGUM NÓ), e guia-me pelo caminho eterno.” (Sl 139.23-24)